sexta-feira, 30 de março de 2012

Sobre o andamento do 365Project

É claro que não sou uma fotógrafa, se é que ser fotógrafo é ter curso técnico e superior. Ou trabalhar com isso. Ou qualquer outro estereótipo. Admiro enormemente quem o faz por prazer e por dinheiro, simultaneamente, já que estamos em um mundo predominantemente capitalista e, se não tem grana, como viveremos, meu amor? Admiro também quem estuda, mesmo que por hobbie, essa arte. 

Só sei que gosto de fotografia e até que eu mesma mude de opinião, vou continuar inclinada para esse ramo - mesmo que ninguém aprove, ou que ninguém aprecie minhas fotos amadoras. 

Com apenas dezesseis fotografias registradas no projeto anual, refleti sobre meus ângulos, minhas composições, minhas distâncias focais e meus ISO. Também relembrei qual a velocidade usada, além da escolha das fotos, das edições, das situações, dos pedidos: "Posso postar aquela sua foto em meu projeto? Por favor? (Duas musas foram Anny e Inercya - elas também escrevem com a alma)".

Comecei a entrar em pânico. A duvidar das minhas criações. Eu já estava com aquele pensamento: vou desistir, afinal, a quem estou enganando? Iniciei o processo de enumeração de pessoas que achavam apenas a palavra ridículo ecoando pelas minhas imagens, apesar de que, outrora, escrevi, na carta de um conto: Que tipo de pessoa afasta a felicidade?. Humanos são contradições ambulantes.

Fiquei imersa em pessimismo por algumas horas, até chegar na seguinte ideia de João Bittar (faleceu aos 60 anos em 2011), fotógrafo brasileiro que trabalhou nos principais veículos de informação do país: “Você fotografa o que você é. Então se você é uma pessoa vazia, sem opinião e sem cultura… você vai fotografar isso.” 

Para retratar o fotojornalismo de Bittar.

Fiquei tão animada com o que ele escreveu. Eu sei que não sou uma pessoa ruim. Também sei que sou aquele tipinho que carrega a utopia de mudar o mundo, mesmo que ao redor, aos poucos, devagarinho. 

Ora, a minha arte, que seja pseudo pra outrem, me faz feliz. Tenho que acreditar nisso. É claro que sempre quero mais, como tudo em minha vida: aprender mais, quero novos cenários, novas técnicas, ou simplesmente eternizar momentos infinitamente jocosos - não quero esquecer de nada, quero ousar em tê-los para sempre, mesmo que só para mim.

Também pode parecer besteira, como a maioria das paixões. E sim, por um lado é. 
Mas se algo nos faz feliz, há outro motivo maior para separar esse sentimento tão bom?  

{15/365}

sexta-feira, 23 de março de 2012

Carta entregue

Garoto franzino, deitado na rua. Estava sozinho pois seus amigos (espero nunca o tê-los) o deixaram. Vagava com o olhar os primeiros transeuntes da Conde da Boa Vista. Luz (já) forte do Sol de Recife, início da manhã. Tentou raciocinar qual ônibus pegaria enquanto procurava nos bolsos alguma moeda para se hidratar - a noite tinha sido de muitas cachaças e promessas desfeitas. 

Enquanto se remexia em sua calçada, sentiu um vento gostoso, que simultaneamente trouxe um papel para perto dele. A princípio ficou feliz, pois confundiu com uma cédula capaz de comprar sua necessitada água, mas ao apertar os olhos pequenos, visualizou algo raro: uma carta.

De supetão, ajeitou-se sentando no meio-fio, e leu em voz baixa parte do que dizia:

...Vamos aproveitar a sorte de termos nos conhecido, mesmo nessas circunstâncias. Vamos pensar menos e fazer mais, afinal nos damos bem. Estou criando dramas, pois isso também faz parte do meu ser. Mas não está dando resultado, não está sendo benéfico para nenhuma parte. Então vamos aproveitar nossos momentos juntos, mesmo sabendo que são efêmeros, mas o que não é nessa vida? Vamos deixar a tristeza de lado, quero você numa outra dimensão. Vamos sonhar juntos quando tivermos oportunidade? Vamos nos unir por pensamentos livres e libertinos? Vamos nos guiar por um tipo de amor que eu nem sabia que existia! Fico tão feliz com você. Que tipo de pessoa afasta a felicidade? Vamos ser os personagens de uma fantasia, vamos transformar nossas histórias em um livro. Vamos, venha comigo. Pegue a minha mão, acaricie meu rosto e fique um pouco mais baixo para eu te abraçar forte. Quero senti-lo perto de mim. E em mim também. Vamos aproveitar as folgas, que serão os dias que poderemos nos ver. Não, não pare de me acariciar com as suas poderosas palavras. Você me acorda com elas. Depois de ouvir suas gravações ou ler suas escritas, já não consigo mais dormir, fico com vontade de reler ou de qualquer outra coisa, menos continuar a dormir. Fico com medo de perder tempo,  não quero perder tempo, só se for para estar com você...

Não quis mais continuar. O garoto, apesar de ainda bêbado da noite anterior, estava lúcido. Pensou demoradamente sobre o assunto, e concluiu como o amor (ou a ideia dele) pode ser cruel, enganoso e doloroso: dopa de felicidade inquestionável o indivíduo contaminado - com muitas ilusões e promessas, vide carta - mas incorre em sequelas verdadeiramente profundas, e (infelizmente) várias vezes pungentes.

Apesar de claramente sagaz, pegou um ônibus errado e cochilou nele, chegando a um bairro totalmente desconhecido da cidade. Entrou em pânico e temeu por não conhecer nada, ao vislumbrar sua volta. 

Percebi que o tal menino falou de amor com uma prioridade inexistente. Amor pode ser tudo. O teor negativo que ele deu a essa força colossal, era por ter medo do desconhecido. Ele era um pessimista ébrio.

Afinal, entendi: O amor é um negócio cheio de surpresas de toda natureza. É coisa de quem está vivo. É para os corajosos que aceitam entrar em um mundo desconhecido. Ou em um bairro qualquer. 


segunda-feira, 19 de março de 2012

De quando eu quase morri

Era uma vez um amigo, destemido.
Eu estava perto de estender as mãos para o infinito.
O amigo, mesmo que um pouco debilitado, procurou para nós um abrigo.
Estendeu suas mãos nessa situação de perigo.
Salvou a minha vida e nem me botou de castigo.
Quando eu acordei, ele surpreendentemente perguntou: Quer casar comigo?






quarta-feira, 14 de março de 2012

#365project

Decidi ilustrar um ano da minha vida. PAM!

Hoje, com muita bravura e devido a um empurrãozinho chamado motivação, proveniente da irmã mais nova, comecei um projeto ousado (e antigo), mas admito, nada original.

Todo mundo já ouviu falar no projeto fotográfico 365 dias, certo? O próprio título já diz de cara sobre o que consiste esse desafio: no período de um ano, fotografar todo santo dia o que você quiser (sentiu o nível de liberdade?).

{1/365}

Antes eu tinha a desculpa (criatividade para achar desculpas todos têm, não é?) de não ter uma câmera. Certo dia tive a brilhante ideia de poupar, justamente para quando existisse a remota oportunidade de adquirir esses objetos mágicos a um precinho justo. Salvei boa parte do dinheiro vindo do estágio e, por fim, ano passado viajei para a Disney (presente surpresa, sim, chorei) e lá em Orlando comprei duas câmeras. Elas são como filhas planejadas. Uma delas é uma cyber-shot, da Sony, muitíssimo útil e fácil de carregar (e de esconder, nesses tempos de cólera). E a outra - ah, essa é a filha prodígio - foi a Nikon 5100. A baby prodígio foi lançada em abril de 2011 e tem uma qualidade de imagem e filmes em HD incríveis. Por meio desses dois equipamentos tento desenvolver essa paixão que vem desde meu pai, que também ama fotografar. 

                   

Eu fotografo desde os 12 anos, quando ganhei uma máquina analógica que até hoje tenho, mas que, infelizmente, não é alimentada por filmes há anos. Sei da qualidade singular das analógicas, porém as digitais roubaram meu coração pela sua praticidade e rapidez. O único lugar em que mantenho meu amadorismo é o Facebook, pois Alien, em toda a sua plena estranheza e impulsividade, excluiu todas as fotos postadas no Flickr - pela segunda vez. Mas agora será diferente (assim espero)! 

{Motivo da exclusão: É como se fosse necessário começar do zero, mesmo que para isso tenha que cometer um ato radical a fim de alcançar o esperado.}

Eu amo iniciar projetos, mas confesso que esse parece ser o mais difícil que participei, já que implica comprometimento diário. Explico-me: se minha vida gerasse diariamente uma nuvem de termos do que eu falo, as palavras mais recorrentes seriam FALTA DE TEMPO, mesmo que isso seja uma verdade questionável. Get it? 
Mas, com muito esmero, em março de 2013 estarei toda orgulhosinha de mim; só para variar um pouco.

#Dois bônus do projeto: Criei a obrigação de escrever em inglês em cada foto, dando um pequeno resumo sobre o dia ou a foto em si. Isso será bom para praticar a língua! E, é claro, estimularei minha criatividade de forma cotidiana. Os projetos estarão no tímido 365project e no célebre Flickr, e o lugar do primeiro devo exclusivamente a linda Barbara, que na sua página 101 em 1001 deu a dica. 

E você, quando vai começar o seu projeto?

Post scriptum: Começar um projeto no dia 14 de março numa quarta-feira à noite é ter a certeza de que nunca é tarde demais. 

sábado, 10 de março de 2012

#Fotografias de Marília Barrionuevo

O objetivo desse post é indicar as fotografias de Marília. Antes vou explicar minha paixão pelas imagens dessa garota de apenas 16 anos (me senti uma velha agora):

Lembra aquele tempo em que você frequentemente usava o Orkut? Navegava e opinava nas comunidades e recebia vários scraps? Pronto. Não consigo lembrar como/quando encontrei Marília nessa rede, só sei que achei as fotos dela mui encantadoras, e até hoje acompanho sua visão de mundo através das lentes que usa. Ela é bastante narcisista, sem a conotação pejorativa da palavra, e por isso adora fazer autorretratos. 

Também gosta de fotografar seus objetos, suas tatuagens (conheci suas fotos quando nem as tinha) e paisagens. Houve uma época em que ela teve um hamster, e algumas fotos fofinhas saíram desse fato (lembrei de você, Pablo). Sua origem é sueca mas desde criança morava aqui no Brasil, em São Paulo, até ano passado, quando se mudou para sua terra natal. Outro tema recorrente em suas fotos são pernas. As dela, sempre. Gosto mais de outras, apesar de ela fazer muito sucesso com esse tipo de foto (Existem fotos pessoais no seu Tumblr com mais de mil notes). Marília é magrinha e branquíssima, tem sardinhas espalhadas pelo rosto e um piercing no septo. Certa vez coloriu os cabelos em tons avermelhados e até hoje acredito que mantenha. 

Marília, mesmo sem saber, ensinou-me a gostar de ser magricela. Calma, não tenho bulimia nem sou anoréxica, muito menos fico endeusando as modelos magérrimas as quais, por vezes, impõem a beleza estereotipada para todos seguirem. Mas o micro bullying que sofri na escola definitivamente foi relacionado à minha figura destoante das amigas de corpos salientes.

Selecionei algumas fotos que adoro pra vocês darem uma olhadinha!

{Você pode encontrar a Marília no Tumblr e no Flickr.}



sexta-feira, 9 de março de 2012

Micro Choro


Ela se ajeita e, enxugando as lágrimas, começa a se desvencilhar dos braços dele para então vociferar:

Minto. 
Todo dia. 
Sabe aquela pergunta cretina que você faz? A que todos fazem? "Você está bem?" Sim, claro. É óbvio que estou incrivelmente bem.
O uso da palavra incrível foi claramente proposital pelo fato de eu respirar ironia. Entenda: Depois de você me cativar e me deixar, imediatamente em seguida - é bom salientar - significa que estou bem, só que ao contrário.
Não estou nada bem.
Não consigo ver meu erro, além é claro de quando me permiti. Deixei você entrar e bagunçar tudo. Agora está saciado e não sente mais amor. Nem paixão. 
Nem absolutamente nada. 
U m a p e d r a
Prometo não tropeçar outra vez.

Ele a retoma pelos braços e pede um último beijo.

Concluo, de soslaio: É da natureza humana ser cruel.

sábado, 3 de março de 2012

Espelho

De lado. De cima. Incompleta. Com as mãos no rosto, ocultando um esboço de gargalhada. Franja lisa obscurecendo um dos olhos castanhos. Cabisbaixa. De frente, só se for atrás de óculos enormes e redondos escondendo a face, ou ao lado de um famigerado personagem. Com cabelos tingidos de cor artificial, os cílios grandes quase tocando as olheiras, mais uma vez olhos para baixo. Boca larga e vários dentes distribuindo sorrisos quase sempre sinceros. Uma foto, a mais amedrontadora de todas, com olhar vidrado, memórias cancerígenas. Outra, predominantemente amarelo doentio, corajosa, apesar de assimétrica. Os princípios em constante mutação e a fé abalada salientes a cada rápido estalido da máquina eternizadora de lembranças. Máquina ineficaz, alguns momentos serão apagados para alimentar o modo de viver.

É o personagem de um conto fictício, irreal, dolorido.
Apenas eu mesma, um sinônimo de simplicidade.
Uma convicção inabalável de conseguir sobreviver por meio da ácida e cotidiana ironia, sobretudo para fins de proteção e diversão.


♫ The XX

© Escreva carla, escreva
Maira Gall