terça-feira, 23 de outubro de 2012

Desembargador Motta, 3574

Sabe qual é a sensação de fazer pela primeira vez alguma coisa que você sempre quis? Senti isso quando viajei sozinha para Curitiba, em julho deste ano. Recebi a oportunidade de desempenhar meu job lá no Paraná. Nunca tinha pisado no Sul do país, e sempre invejei o frio que faz por aqueles cantos. É claro que aceitei em milésimos de segundo! Foram só alguns dias, de quinta-feira até domingo: o bastante para recuperar a minha sanidade e vontade de viver, já que Recife e seus cidadãos, na época, estavam sufocando meu coraçãozinho. 

Foi uma experiência maravilhosa e por isso indico muito: viaje, nem que seja forever alone. É um baita remédio para a alma. E também aceite desafios sem pestanejar. Foi o que fiz: apresentei, pela primeira vez, o trabalho que venho fazendo apenas nos bastidores. Conheci meus importantes clientes e mostrei para eles meus conhecimentos de social media. Entendi mais o que eles esperavam de mim, da minha empresa. Conheci mais de mim mesma: o nervosismo ficou de lado quando falei de algo que fazia todos os dias e gostava muito. Respondi a dúvidas, ri com alguns achados do job e saí de lá morrendo de vontade de trabalhar mais ainda pelo que acredito.

A noite de sexta-feira, o sábado e a manhã do domingo foram os dias de turismo. Parecem poucos dias, mas com passeios planejados e otimização do tempo (para quê dormir mais de cinco horas, afinal?), tudo pareceu correr bem. Saí de lá pois era preciso, voltei para Recife com felicidade de reencontrar alguns amados. Tipo aquela célebre citação que é um filme: "viajo porque preciso, volto porque te amo". Isso nunca pareceu se encaixar tão bem no contexto daquele final de semana incrível com pessoas inéditas. 

Não tirei tantas fotos quanto gostaria, mas fiz uma seleção da viagem para vocês verem. O que mais me impressionou em Curitiba foi o planejamento de arborização da cidade. Fiquei completamente apaixonada pela limpeza das ruas, organização dos ônibus e demais serviços, e o verde que o lugar emanava a cada esquina. 

A dica para quem quer conhecer os principais pontos turísticos é pegar a Linha Turismo. Com ela, é possível conhecer os parques, praças, teatros, museus e demais atrações. Lembro que fiquei apaixonada pela Ópera de Arame, o Museu Oscar Niemeyer e o Jardim Botânico.



Meus momentos mais solitários: viajar no avião, conversando com estranhos que provavelmente nunca mais verei na vida, e devorar um café da manhã digno para um dia diferente de trabalho.


Essa foi a dica do meu cliente super fofo que almoçou comigo e com minha chefa. "The best burger in the world" é ousado no slogan, e tem realmente um sabor delicioso (e nem é tão caro). 



Pedacinhos do hostel que fiquei hospedada. Pimentinhas crescidas e quadrinhos bem feios na descida das escadas.


Alguém está vendo alguma coisa ali dentro? Esse é o chopp submarino, tomei lá no Schwarzwald - Bar do Alemão. Tem um canequinho ali, e no dia perguntei ao garçom se podia levar comigo. Ele foi bem sucinto e mandou olhar embaixo do canequinho, nem deu muita atenção. Estava escrito: "Este caneco foi roubado honestamente.". Morri de amores por esse lugar. 



  

Museu Oscar Niemeyer: espetacular. Quero voltar milhões de vezes!





Filho sendo abduzido no Jardim Botânico.




Essa florzinha amarela se chama amor perfeito. Sabia que encontraria um dia!


Uma das impressões que tive durante a viagem foi a demonstração inusitada de amor de algumas pessoas. Algo paradoxal: estou sempre aqui, nas ruas do Marco Zero, em casa fazendo home office, ou na faculdade. Quando viajo, eis que aparecem manifestações de amor puro - o que não ocorre com frequência na situação Aline no Recife. Sei que é extremamente corriqueiro mas, que tal colar na parede do quarto "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã."?

Em suma: indico viagens, Curitiba e chopp geladíssimo. 
E muito amor para quem merece.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A beleza se esconde na desordem

Ontem, como de costume, sai às pressas de casa para chegar à faculdade. Andei rápido e já comecei com meu habitual estresse diante daquele trânsito infernal. Pedestres também ficam bastante indignados com aquela agonia, é claro. Passei entre os carros parados, com cuidado para não vir uma motocicleta e me acertar em cheio. Sempre em frente. Só via as silhuetas dos outros pedestres, sem prestar muita atenção aos detalhes de cada um, só características básicas de uma observadora profissional como eu: uma senhora com sacolas nas duas mãos, um morador colocando lixo na rua (em horário errado devo salientar), um ciclista invadindo a calçada. Quando estava chegando à avenida Recife, o ônibus que passa na esquina da minha casa se aproximou (não pego esses locais pois demoram muito para passar). Pedi parada e ele deixou entrar, já que estava tudo congestionado mesmo. Lá dentro descobri que o ônibus tinha mudado de rota, então precisei descer na próxima parada, isto é, na esquina de casa.

Achei uma piadinha de mal gosto: depois de ter andado aquilo tudo, pensado na sorte ao subir no ônibus tão rapidamente e depois ter que descer para andar tudo de novo. Depois eu vi que meu azar valeu a pena.

Andando rapidamente pelo mesmo lugar de minutos atrás, vislumbrei aquela mesma senhora, a passos mansos, indo na direção contrária à minha. Passei por ela em segundos, e já estava a cinco passos de distância quando olhei para trás. A velhinha estava na calçada, ansiosa para atravessar a rua congestionada, mas temerosa com os carros desrespeitosos em cima da faixa de segurança. Não tinha semáforo. Hesitei por alguns minutos ali, apenas olhando para a mulher idosa, esperando que ela conseguisse passar. Quando percebi que estava hesitando demais, quase corri para ajudá-la - estava com medo de que ela ignorasse a minha ajuda, porém não custava tentar. Ela, ao contrário de mim, não vacilou segundo algum. A mão que estendi (falando um pouco alto demais por causa da poluição sonora: "vamos passar comigo essa rua?") foi agarrada com força e no mesmo instante pedi para alguns carros pararem. Passamos em segurança para o outro lado da calçada e ela, com um semblante feliz, agradeceu imensamente: "Obrigada, minha filha!". Melhor do que sua fala, de voz rouquinha e aveludada, foi ela pegando novamente a minha mão, e dando um beijo em sinal de gratidão.

Eu disse que não precisava agradecer e dei boa noite. Aí ela foi andando, lentamente, e eu recomecei minha jornada para a universidade. Não tardou muito para desatar um chorinho fino... Lembrei saudosa da minha  falecida avó, e pensei em todos os idosos que eu poderia ajudar, o mínimo que fosse. Percebi que se eu continuar na desordem e velocidade características da minha vida, raramente desfrutarei de momentos tão emocionantes e insubstituíveis como esse.

Quando estive em Curitiba (PR). 


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Diário de uma motociclista

Andar de motocicleta causa uma sensação ímpar! Seus cabelos ficam esvoaçantes, seu corpo se refresca com o ventinho e a adrenalina originada pela situação te causa um misto de temor e felicidade. A cada acelerada, a intensificação desse sentimento bom aumenta. Pelo menos é isso que venho sentindo nas últimas aulas! No início do ano, paguei à autoescola tanto por aulas de carro quanto de moto, em um ímpeto de pobre na liquidação. Como o valor da diferença das habilitações A e B era ínfimo, achei que seria mais vantagem aprender duas coisas em um período só. Acontece que na primeiríssima aula com o instrutor, fiquei totalmente petrificada diante da minha ignorância. Eu só sabia que o veículo era perigoso e tinha duas rodas. E só. Não sabia como ligava, dava partida, acelerava, freava, ou como se comportava em cima daquilo sem cair. Só para ter uma ideia: na primeira aula, eu passei uns quinze minutos tremendo literalmente. Estou tendo a sorte (ou azar) de ser ensinada por um instrutor mandão que adora repetir meu nome a cada segundo. Pode parecer chato, mas se o objetivo da aula é aprender algumas noções, está dando certo!  


Listei alguns conceitos básicos que assimilei, considerando o modelo da minha moto, o modo como ela estava configurada e a didática do instrutor. É claro que para fazer as etapas, você tem que ter mais de 18 anos, ter passado na prova teórica (acertar mais de 21 pontos), ter em mãos documento oficial com foto e o RENACH (Registro Nacional de Carteira de Habilitação), estar devidamente seguro com o capacete e demais acessórios e estar na presença do instrutor. Não vale a pena tentar sozinho em casa. Eis os passos:
  1. Subir pelo lado do descanso. Para a moto ficar paradinha, ela tem um descanso semelhante ao de uma bicicleta. Você deverá subir por aquele lado, geralmente o esquerdo, por medida de segurança.
  2. Puxar o guidom para si. Ele estará inclinado para o lado do descanso, desta forma você terá que puxar o guidom para si, deixando alinhado ao seu corpo que, até agora, estará em pé. Achei a moto muito pesada! 
  3. Posicionar-se corretamente na moto. Pode parecer bobo, mas você tem que saber a forma correta de sentar no veículo, pois isso influenciará no desempenho do equilíbrio lá na frente. Caso você sente muito na frente ou atrás, poderá exercer um peso que dificultará as manobras. 
  4. Apoiar pé direito no chão enquanto levanta o descanso. Você retira o descanso com o peito do pé e deve lembrar de colocar de volta com o calcanhar. Na hora, você verá que essa é a maneira mais fácil de fazer o processo.
  5. Ligar a moto. Girar a chave. Tem lá o intuitivo on/off, rs.
  6. Conferir se a marcha está em ponto neutro. Se no carro o título é "ponto morto", na moto você vê um painel mostrar um "N" bem grande esverdeado. A moto tem que estar nesse estágio para, em breve, ser colocada na primeira marcha e sair andando.
  7. Pressionar a ignição. A moto que eu andei tinha uma ignição que era um botãozinho vermelho. Observando o trânsito, notei que existe outro dispositivo que fica na altura das pernas, e aparentemente o piloto tem que fazer um movimento brusco para baixo para o motor começar a roncar. Achei o botãozinho mais prático.
  8. Segurar a embreagem. A embreagem está mais próxima da sua mão esquerda. Você terá que segurar o manete e fechar completamente na sua mão. 
  9. Colocar na primeira marcha. O seu pé direito tem que estar apoiado no chão, e o esquerdo, que é o do lado do descanso (normalmente), vai passar a marcha, pisando o pedal. Um clique para baixo é colocar na 1º marcha. 
  10. Fazer meia embreagem. Você vai soltando a embreagem devagarinho, até ela chegar na metade ou em um ponto que a moto ande. O próximo passo ajuda nesse processo. Se soltar demais, a moto "morre".
  11. Impulsionar a moto para frente com o pé direito. Na aula, o instrutor ensina a dar um impulso com o próprio pé para a moto andar, para que você não precise girar o acelerador (ele põe um pino para impedir que o aluno, nas primeiras aulas, gire o acelerador e chegue à China ou emergência).
  12. Equilibrar-se. Se os passos precedentes forem executados perfeitamente, você estará andando a pouquíssimos km/h. Alguém que já andava de bicicleta antes pode ter mais noção de equilíbrio.
  13. Frear. Era o que eu mais queria saber. Seria o SOS perfeito se algo desse errado. O freio estará ao alcance do seu pé direito. Você deverá pisar no freio e simultaneamente apoiar o pé esquerdo no chão, caso contrário, a motocicleta poderá cair sobre você.
As dicas para obter um bom desempenho e ganhar a 1º habilitação de moto são simples: o ideal é usar o mesmo veículo dos treinamentos e a mesma didática, se estiver dando resultado. E lá, naquele nervosismo, fazer tudo o que aprendeu, sem muita criatividade. Comprei sete aulas que duravam 50 min cada, estou achando que será suficiente. Analise o seu progresso e só eventualmente compre mais aulas.

É isso. Resolvi compartilhar o pouquinho que aprendi com vocês, com todas as limitações de uma autoescola, é claro. Percebo o quanto o nosso trânsito é caótico também por causa da falta de educação dos pilotos. Infelizmente na autoescola - e acredito que isso seja uma característica do país todo -, você apenas aprende a passar na prova do Detran. Não entendo como o país continua sem perspectiva de um futuro mais promissor, sem investir verdadeiramente em educação de todo tipo. Só esse ano, em Pernambuco, 71.462 carteiras de habilitação foram emitidas (do tipo primeira habilitação). Isso significa que, em teoria, mais de setenta mil pessoas já sabem dirigir. Decerto uma ilusão, já que você não é ensinado a se comportar no trânsito. É só visualizar as estatísticas assustadoras de morte do Estado para comprovar que algo está errado. A única movimentação que vi do governo foi criar o CEPAM (Comitê de prevenção aos acidentes de moto em Pernambuco). As ações incluem educação no trânsito, palestras educativas, fiscalizações e capacitações de equipes médicas. Acho a campanha bem apelativa, já que estampa fotos de acidentados que perderam os pés ou as pernas, por exemplo, nos acidentes. Causar medo e ensinar não são atitudes de mesmo significado para mim.

E vocês, já dirigem? Pilotam? Como foi a prova? Estou ansiosíssima!




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Maira Gall